ad

ad

domingo, 25 de novembro de 2012

Pneus usados voltam ao mercado como asfalto emborrachado




Além do asfalto, o pneu velho, após triturado, pode servir também como grama artificial e manta isolante

Foi-se o tempo em que o pneu usado era o grande vilão do meio ambiente. A demora para a degradação, cerca de 160 anos, e a destinação final incorreta são coisas do passado. Atualmente, o material tem sido reciclado para diversos fins. Em breve, será disputado pelo mercado. Nessa perspectiva, o município de Horizonte, localizado na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), ganhará, em 2013, a terceira usina de reciclagem do Nordeste.


A usina móvel de asfalto ficou exposta na semana passada durante a ExpoPavimentação, no Centro de Eventos: o equipamento tem 42 metros de extensão e pesa 56 toneladas FOTO: FABIANE DE PAULA

Prova da importância que o tema ganhou ultimamente foi a realização, em Fortaleza, na, semana passada, de três eventos: a 41ª Reunião Anual de Pavimentação; o 2º Simpósio Internacional de Pavimentação Asfáltica e Meio Ambiente (ISAP - International Symposium on Asphalt Pavements & Environment, que reuniu cerca de mil profissionais do setor, cem dos quais de outros países; e a Feira de Materiais e Equipamentos para Pavimentação (ExpoPavimentação).

Uma das principais atrações deste último evento foi uma usina de asfalto. O maquinário, de 42 metros de extensão e 56 toneladas, teve acesso ao Centro de Eventos, local da exposição, e chamou a atenção dos frequentadores. O diretor da Ikaeventos, empresa que organizou a feira, revelou que foi construída uma rampa para que a usina pudesse entrar. "Só foi possível o seu acesso por conta das dimensões gigantescas do Centro de Eventos. Do contrário, seria impossível trazê-la".

Os pneus, que antes eram deixados no meio ambiente, hoje são utilizados na composição do asfalto. A borracha usada modifica as características químicas e físicas do composto asfáltico, dando maior resistência à fadiga e ao envelhecimento. Diversos países já fazem uso desse processo, chamado asfalto borracha.

O Brasil não possui uma legislação pertinente ao assunto, que obrigue a inclusão de borracha no asfalto. Todavia, a resolução 258/99 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) determina que as empresas fabricantes e importadoras de pneumáticos são obrigadas a coletar e a dar um destino ambientalmente adequado aos pneus inservíveis.


Pneus descartados incorretamente no meio ambiente Foto: Kiko Silva

O professor Jorge Soares, chefe do Departamento de Engenharia de Transportes da Universidade Federal do Ceará (UFC) e coordenador da ExpoPavimentação, garante que "a utilização de novos materiais de pavimentação, como asfaltos modificados por borrachas, possibilita revestimentos mais duráveis e vias de melhor qualidade".

Cesar Faccio, gerente geral da Reciclanip, entidade que cuida da coleta e destinação de pneus irreversíveis no Brasil, conta que "a utilização do asfalto-borracha na pavimentação de rodovias tem sido incentivada por meio de leis estaduais, porém os editais de recapeamento devem conter explicitamente a preferência por esse tipo de asfalto, que tecnicamente é superior ao tradicional. Isso aumentaria ainda mais o destino inservíveis para essa finalidade".

A Reciclanip tem 726 pontos de coletas espalhados por todo o País. Cesar Faccio ressalta que "a entidade trabalha em parceria, principalmente com as prefeituras, que cedem o terreno de acordo com as normas de segurança e higiene, para recolher e armazenas pneus. Quando o ponto de coleta atinge a marca de 2.000 unidades de pneus de passeio ou 300 de caminhão, o responsável comunica à Reciclanip que, por sua vez, programa a retirada do material com os transportes conveniados. Somos responsáveis pela criação do ponto de coleta e toda a logística de transportes de saída do material desses locais. Como somos uma entidade sem fins lucrativos, entregamos os pneus para as cimenteiras sem custos para elas".

Os pneus inversíveis descartados de forma errada contribuem para entupimentos de esgoto, enchentes, poluição e ocupam um enorme volume nos aterros sanitários e são um potencial foco para o mosquito da dengue.

Em janeiro, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), estará operando a Usina de Reciclagem de Materiais Inservíveis do Norte e Nordeste (Reciclanor). De acordo com o empresário Edson Liberal, idealizador do projeto, um terreno de três hectares já foi cedido pela Prefeitura de Horizonte, na Avenida Asa Branca, distrito industrial, para a construção das instalações.

"O maquinário virá da Europa. Preferimos não declinar agora exatamente de onde. Passamos um ano pesquisando para escolher o melhor. No processo de produção, a gente coloca o pneu na esteira e ele já sai do outro lado em forma de pó e empacotado em sacos de 30 quilos ou do tipo ´big bag´, tamanho padrão usado em todo o mercado", revela Liberal.

Conforme o empresário, esse produto reciclado serve não só para ser usado no chamado asfalto ecológico, como também em blocos para piso, grama artificial, pó para solado de sapato e manta isolante.

Inicialmente, a Reciclanor empregará 37 pessoas na linha de produção, que terá condição de processar três toneladas de pneus - de caminhão, trator e carro de passeio - por hora.

"Usinas similares a essa no Nordeste só existem na Bahia e Paraíba. Por isso mesmo, vamos utilizar todos os pneus inservíveis do Ceará e ainda mandaremos buscar no Piauí e Rio Grande do Norte. Acredito que, até 2015, não teremos mais pneus velhos descartados incorretamente no meio ambiente nesses estados", acredita Liberal.

FIQUE POR DENTRO
Mais de 90% do material estão sendo reciclados
De acordo com levantamento do Compromisso Empresarial para a Reciclagem (Cempre), em 2010, o índice de reciclagem de pneus no Brasil foi da ordem de 92%. Atualmente, existem cerca de 30 empresas que processam pneus no País inteiro. Já são 726 postos de coleta de pneumáticos usados. Conforme a entidade, a capacidade instalada de reciclagem dessas unidades é em torno de 350 mil toneladas por ano.

A indústria do segmento argumenta que problemas de logística e de fiscalização acabam por diminuir o número de pneus que são dispostos adequadamente. Hoje, eles chegam aos pontos de recebimento através da coleta das prefeituras ou são repassados por borracheiros ou, em muitos casos, pelos próprios consumidores que a cada dia se conscientizam mais. Vale salientar que, ao contrário da Europa, onde os consumidores, ao comprarem pneus novos, pagam uma taxa para a reciclagem dos velhos, no Brasil não há qualquer tipo de cobrança ou taxação pelo serviço, todo ele executado pela Reciclanip. Dados da Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (Anip) informam que o Brasil reciclou cerca de 311 mil toneladas em 2010, o que corresponde a 62 milhões de unidades. O Programa Nacional de Coleta e Destinação de Pneus Inservíveis (Reciclanip), iniciado em 1999, é responsável pela coleta dos pneus inservíveis por parte dos fabricantes. Mais de 1,5 milhão de toneladas, o equivalente a 300 milhões de pneus de passeio já foram recolhidos desde então. Uma das formas mais usuais de aplicação dos pneus inservíveis é como combustível alternativo para a indústria de cimento, que hoje corresponde por 64% do total. Os demais 36% reutilizados, após a trituração, são transformados em tapetes de automóveis, mangueiras, solas de sapato, asfalto esborrachado, quadras poli-esportivas, pisos industriais, dentre outras atividades. Ainda tendo como base o ano de 2010, o Brasil produziu 67,3 milhões de pneus. Um terço desse montante foi exportado para cerca de 85 países. O restante foi destinado ao mercado interno. O pneu pode se transformar em combustível alternativo, com poder calórico de 12 mil a 16 mil Btus por quilo, superior ao do carvão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário